Profissões ligadas ao Áudio - Técnico de PA
Autor: Fernando Antônio Bersan Pinheiro
Peazeiro é quem trabalha com PA, com sonorização ao vivo. A princípio, peazeiro seria um termo indicado para definir quem trabalha com eventos ao vivo, não importando o tamanho do mesmo.
Modernamente, peazeiro é quem faz eventos grandes, para alguns milhares de pessoas. Entretanto, quem faz eventos pequenos também gosta de se intitular "peazeiro", talvez pelo respeito que o nome impõe.
A profissão "peazeiro" se divide em duas: a de técnico de monitor e a de técnico de PA propriamente dito.
Grandes eventos costumam ter duas mesas de som: uma no palco e outra mais no meio da platéia. A mesa de palco, operada pelo técnico de monitor, provê os recursos necessários para os próprios músicos e cantores se ouvirem (o retorno de som, a monitoração).
O trabalho do técnico de monitor é atender aos artistas da forma que eles necessitam (nem sempre isso quer dizer como eles desejam). Para isso, o técnico precisa estar muito bem entrosado com os músicos e os cantores. Conhecê-los, saber suas preferências, até mesmo os seus erros mais comuns. Muitos artistas carregam seus técnicos de monitor para onde vão. Os consideram "um membro da família" (mas na hora do pagamento...).
O técnico de monitor não precisa conhecer acústica (seu "espaço" é somente o palco), mas tem que saber decorado o tipo de monitoração que cada artista prefere. Uns vão de caixa de retorno, outros vão de fone de ouvido, etc. Precisa saber que o guitarrista gosta do som mais "assim" e o baixista gosta "mais assado". Que o baterista quer no seu fone seu próprio instrumento, bastante do baixo e um pouco do teclado, e assim por diante.
Seu trabalho pode parecer mais simples (espaço menor, menos gente), mas em compensação lidar com "estrelas" muitas vezes "é fogo". Precisam ter muito jogo de cintura.
Por sua vez, o técnico de PA tem o controle da mesa de PA. Sua preocupação é atender bem ao público do evento. Se todos estão ouvindo, se a inteligibilidade está boa, as interações com a acústica local, o equilíbrio dos volumes dos canais, o volume geral, etc. Um grande trabalho.
O técnico de PA precisa conhecer bem de acústica. Ele que vai definir a localização das caixas de som, a forma de montagem delas. Vai se preocupar se os amplificadores instalados conseguem alcançar o volume necessário. Vai fazer o alinhamento de todo o sistema, de forma minimizar reverberações e outros problemas. Muitos técnicos de PA são pessoas contratadas, que conhecem bem o lugar onde o evento é realizado.
Apesar de ter escrito bem menos sobre o técnico de PA do que o técnico de monitor, não pense que sua vida é mais fácil. Dá muito trabalho, mas pelo menos não tem que aturar músico que reclama que não consegue se escutar...
Tanto o técnico de monitor quanto o de PA precisam saber também coordenar equipes. Não basta apenas saber áudio e operar o sistema. São eles que coordenam os trabalhos de montagem de estruturas metálicas (e fiscalizam essas montagens - já imaginou uma caixa caindo do alto em cima de alguém?). Também precisam verificar as instalações elétricas (já imaginou um disjuntor desligando no meio do evento?), dizer aos carregadores onde fica cada coisa, etc. Ufa! Sonorizar um evento é um trabalho de equipe.
Bem, em eventos grandes existem dois técnicos. Em eventos pequenos... com uma mesa só... o peazeiro tem as duas coisas para fazer: cuidar da monitoria e do PA, e às vezes fazer o papel de montador, de eletricista, de carregador... Alguns dizem que é mais fácil fazer eventos grandes que os pequenos.
Sonorizar um evento ao vivo significa grande responsabilidade. O público (independente do tamanho) espera e merece ouvir um som de qualidade. Nada pior para um peazeiro saber depois que reclamaram do não ouviram ou conseguiram entender nada. Um peazeiro precisa conhecer muito de equipamentos de som. Domínio total dos mesmos, conhecer
cada recurso da mesa. A atuação que um efeito, um equalizador paramétrico ou compressor vai fazer na voz, no instrumento. Nos ensaios dá até para testar novas situações, mas no evento nunca. Tem que ter boa noção de áudio, de música e de canto. Quanto mais souber desses três melhor ele será no seu trabalho como um todo.
Um peazeiro sabe que será o primeiro a chegar ao local do evento. Tem que montar tudo, checar tudo, conferir tudo. Nada pode dar problema (e olha que com tudo conferido ainda dá problema). Algumas vezes o evento será montado com dias de antecedência, outras vezes será montado em cima da hora, mas nenhum deles pode ter falhas. Também sabe que será o último a sair, após a desmontagem de tudo.
Um peazeiro não tem medo de carregar aquelas caixas de som pesadíssimas, os racks com dezenas de aparelhos, a mesa enorme. Mas assim que sobra um dinheiro trata de contratar carregadores...
Sabe planejar, pois evento em que não se planeja o som é evento em que se planeja falhar. Monta rider técnico, mapa de palco, input list.
Sabe ser organizado, pois no meio de dezenas de cabos, quem não se organiza "se trumbica". Desses 48 canais qual que é mesmo o do cantor principal?
A preocupação com qualidade sempre está presente, mas não é tão exarcebada como nos estúdios. O compromisso é com o público. Está dando para ouvir bem? A inteligibilidade está legal? Então está bom!
O objetivo muitas vezes não será 20Hz-20KHz perfeitos, mas se o público está gostando ou não. Acha uma microfonia um pecado mortal, que não pode ser cometido nunca. Dói no ouvido e na alma.
Está sempre atrás de novos equipamentos. Equipamentos mais fáceis de usar, mais leves de carregar e principalmente mais confiáveis. Confiabilidade é tudo: os equipamentos são transportados para lá e para cá nessas esburacadas estradas brasileiras, recebem energia com muita variação de voltagem, aguentam frio e calor. Precisam ser resistentes.
O peazeiro também tem uma característica interessante: sabe estar preparado e reage rapidamente às adversidades. Pode ter rider técnico, mapa de palco e input list, mas sabe que alguma coisa pode dar problema de última hora. Aí tem equipamentos de backup, cabos e conectores sobrando, tudo que possa ajudar a resolver um problema de última hora. O microfone do cantor ameaçou falhar? Então troca logo, para evitar problemas.
Uma coisa complicada para o peazeiro é ter que depender do trabalho dos outros. Adianta chegar cedo e os músicos/cantores não chegarem cedo também para a passagem de som? Também adianta para o peazeiro colocar os monitores no ângulo exato de menor indicêndia de realimentação se o cantor vira o microfone para a caixa, no meio do evento? Passa raiva, dá brigueiro, repete o que já falou 1.000 vezes:
não pode apontar o microfone para a caixa, tem que chegar cedo, etc.
Para o peazeiro, o som do evento é tudo, nada mais importa. Dormir, tomar banho, alimentar-se direito são luxos. Alguns incluem colchonetes no kit de aparelhagem de som. Se for preciso passar a noite em claro para que o evento no outro dia esteja OK, então passemos a noite em claro.
Vida de peazeiro é adrenalina pura! Não tira os olhos do palco, não pára de olhar os movimentos dos cantores e músicos. As mãos ficam cheias de suor. Atenção total. Um iniciozinho de microfonia e o peazeiro já está alterando equalização. Relaxar, só depois de desligar o último amplificador.
O maior inimigo do peazeiro chama-se tempo. Ah, esse tal de relógio, que não para de contar os segundos. Para um peazeiro, segundos fazem a diferença entre o desastre e o bom som. Isso não é exagero.
É sonorização ao vivo? Então este é o lugar do peazeiro, onde ele se sente bem, com o sangue cheio da adrenalina. Não o ponha para ser DJ em uma festa, existe um grande risco de uma reclamação geral.
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