Profissões ligadas ao Áudio - Técnico de Gravação
Autor: Fernando A. B. Pinheiro
O técnico de gravação trabalha, como o próprio nome já diz, em estúdios de gravação. É ele quem grava as músicas dos artistas, que depois vão virar CDs comerciais.
O técnico de gravação tem que saber muito de áudio. Ele precisa conhecer todos os equipamentos - mesa, equalizadores, compressores, efeitos, e principalmente os seus efeitos sobre os instrumentos e vozes que estão sendo gravados. Precisa conhecer os microfones com a palma da mão, saber técnicas de microfonação e qual o melhor microfone para esta ou aquela voz ou instrumento musical.
Também precisa conhecer computadores e os programas de computador utilizados profissionalmente. Conhecer o Sonar, Pro Tools, Cubase, entre outros. Não pense que isso é fácil: são programas enormes, com centenas (até mesmo milhares) de funções e ajustes diferentes, e o técnico de gravação precisa conhecer todos eles. Tem até opção para fazer desafinados ficarem afinados!
Um técnico de gravação é em geral uma pessoa calma, tranquila. Isso porque a vida em um estúdio é muito mais tranquila que a de qualquer peazeiro. É mansa, muito mansa, por uma série de fatores:
- É um lugar de acústica controlada (o projeto do estúdio influencia muito aqui), com o devido tratamento acústico. Nenhum técnico precisa se preocupar com as reverberações ambientes. Ao contrário, ele crescenta delays e reverbs para simular que o som está sendo feito em outros ambientes - um estádio, um teatro, uma grande sala, etc.
- Tudo já está no seu lugar. Na sala do técnico, todos os equipamentos já estão montados, conectados, sempre prontos para trabalhar. É só acionar a chave liga-desliga e tudo pronto. Ninguém carrega nada, peso nenhum. Aliás, equipamentos de som de estúdios tem alto valor de revenda, muito mais que os equipamentos dos peazeiros, que vivem sendo transportados "prá lá e pra cá" e sofrem muito com isso.
- No estúdio não há problemas com energia. Um no-break garante energia limpa e estável, muito ao contrário do peazeiro, que precisa andar sempre com um eletricista junto, e se preocupa muito com o fornecimento de energia, que pode variar ou sofrer picos e queimar os equipamentos.
- O único "trabalho pesado" que se tem no estúdio é o de montar os microfones. Mas ainda assim é tranquilo, pois existe um armário onde se guarda os pedestais, os microfones, os cabos. Basicamente é pegar, usar e devolver para o mesmo lugar depois, mantendo tudo sempre em ordem.
- Não há microfonias. A maioria dos estúdios trabalha com fones de ouvido para os músicos e cantores, e o risco de microfonias é absolutamente zero. Mesmo quando se usam caixas monitoras, o ambiente controlado ajuda muito a reduzir esse risco. E se acontecer microfonia, basta parar, apagar a gravação e começar de novo.
- Estúdios contam com ar-condicionado potente (mas silencioso), ninguém enfrenta um calor tremendo como acontece com os peazeiros.
- Não se preocupa com problemas de interferências em microfones sem fio. Em um estúdio, tudo é com fio, mas os fios passam em organizadas canaletas, nada espalhado de qualquer jeito.
- Não há a adrenalina no sangue, o coração batendo forte, aquela pressão, a preocupação tremenda com todo o evento, com o que está acontecendo, como acontece com os peazeiros. No estúdio, erros são apagados e refeitos com um click de mouse. No som ao vivo, simplesmente erros não podem acontecer,
pois todos vão ouví-los.
Na verdade, essa questão de "adrenalida" influencia muito. Há muita gente boa de som que não suporta trabalhar na pressão que é um evento ao vivo, e vão trabalhar em estúdios, onde as coisas são bem mais calmas. Já outros não suportam estúdios, porque gostam mesmo é da pressão, de sentir a adrenalida no sangue e depois ter a enorme sensação de alívio ao final de um trabalho bem feito, sem problemas.
Além dessa série de vantagens, talvez a maior seja o fator tempo. Se o maior inimigo do peazeiro é o tempo, pois os inúmeros problemas que surgem precisam ser resolvidos ANTES do evento, nos estúdios o tempo não é nem um pouco inimigo, mas sim um dos maiores aliados. Em geral os estúdios cobram por hora, então se o músico falar "volta tudo que eu errei" o pessoal do estúdio até abre um sorriso.
Também é comum o técnico de gravação testar a gravação de vozes ou algum instrumento várias vezes, com microfones diferentes, justificando que está "procurando a sonoridade ideal". Grava-se exatamente a mesma coisa com 4 microfones diferentes, e sem problema algum para o técnico, já que é o cliente que está pagando mesmo. Em alguns casos é realmente um técnico procurando uma sonoridade melhor, mas em outros é pura enrolação.
Se essas são as vantagens, essa vida também tem desvantagens. Vejamos:
- se um peazeiro já fica razoavelmente satisfeito quando consegue um som entre 50Hz e 15000Hz, para um técnico de gravação qualquer coisa menos de 20Hz a 20000Hz é terrível. A busca por qualidade em um estúdio é contínua. No estúdio pode-se trocar um microfone caríssimo com sonoridade maravilhosa por outro mais caro ainda com sonoridade incrivelmente maravilhosa. Isso tudo em se tratando de microfones extremamente frágeis, que não resistem a uma queda sequer.
A busca pela qualidade é uma necessidade. As músicas gravadas pelo técnico serão ouvidas tanto por pessoas com um pequeno microsystem de qualidade duvidosa, por pessoas com um rádio de pilhas e mesmo quanto por um audiófilo, com equipamento de primeiríssima. Em todos a música tem que soar muito bem.
- Investimento em coisas caras vão a níveis de detalhes. Pode-se investir em cabos de prata e conectores banhados a ouro porque dão um melhor contato e menos ruído. Usa cabos de microfone com bitola 0,80mm2, muito mais grossos que os comuns 0,30mm2 utilizados pelos peazeiros. Tudo em nome da qualidade.
- O estúdio também tem precisa ter vários periféricos de marcas diferentes. Um microfone pode exigir um pré valvulado de uma marca para vozes femininas e ficar melhor com outro pré para vozes masculinas. E o técnico de gravação precisa conhecer todos eles.
Nem todos os estúdios são assim, com tudo do bom e do melhor. Mas todos almejam isso. Um peazeiro compra equipamento e utiliza-o por vários anos, consertando e/ou trocando o que dá defeito apenas.
Compra-se equipamentos robustos para durar muitos anos. O investimento em qualidade acontece, mas em escala menor. Já em um estúdio se reinveste dinheiro constantemente na busca de mais qualidade.
O técnico de gravação precisa estar muito mais "antenado" com os lançamentos de novos equipamentos.
- Outro problema é a mixagem. Depois da gravação propriamente dita ter sido feita, é hora de fazer os ajustes no programa de computador. Esse momento pode parecer simples, mas é complicadíssimo. O técnico faz a mixagem conforme o seu gosto, ajusta, corrige, melhora, usa os recursos disponíveis no
programa. Mas são centenas de opções disponíveis, inúmeras possibilidades de mixagens.
Aí pergunta para um, que acha que a voz do cantor poderia ter mais peso, pergunta para outro que reclama que não ouve o bumbo direito, etc. Isso quando não é o próprio técnico, que leva para casa a mixagem e no carro sente falta do back vocal, e em casa sente falta de uma coisa ou outra. E volta, e refaz, e pede opiniões novamente, e de novo escuta em casa e no carro, em um ciclo que, se o técnico não tiver cuidado, acaba se enrolando, atrasando o trabalho e se estressando com isso.
Muitos técnicos poucos experientes sofrem com esse tipo de problema. Mesmo gente de renome enfrenta isso de vez em quando. É preciso muita experiência para se ter certeza que está bem gravado ou não.
O campo de trabalho do técnico de gravação é basicamente os estúdios, sejam eles de gravação ou de rádio e televisão. Também existem gravações de eventos ao vivo, mas o trabalho aqui é bastante interessante. Para quem não sabe, não se grava o som do mesmo jeito que o público escuta. Nesse tipo de evento, costumam existir pelo menos duas mesas de som. Uma é operada pelo peazeiro, que vai se preocupar com o som do PA, a acústica, o volume, etc. Outra é a mesa de gravação, operada pelo técnico de gravação, que se preocupa é com o som que está sendo gravado apenas. Essa gravação
ainda será editada, corrigida. A gravação de um evento ao vivo poderá ser muito diferente (em geral melhor) do que realmente foi a sonorização no evento.
Um peazeiro até pode fazer gravações, mas vai achar esse negócio de "testar sonoridades diferentes" um negócio complicado. Voltar e gravar de novo? Que coisa mais chata! Já um técnico de gravação pode até fazer um evento ao vivo, mas vai terminar o evento estressado por causa da adrenalina, e se sentirá frustado, caso não consiga (e raramente vai conseguir) a mesma qualidade a que está acostumado.
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